Os clubes de futebol têm se tornado organizações cada vez mais valiosas
Quando
falamos em organizações, logo nos vêm à cabeça a imagem de grandes empresas,
corporações e multinacionais que habitam o imaginário comum da população,
entretanto uma forma organizacional que foi sistematizada no século XX e tem
ganhado força incrível desde o início dos anos 2000, - não é muito recordada
enquanto organização -, são as organizações ligadas ao esporte. Atualmente, as
grandes instituições esportivas surgem como organizações fortíssimas e
verdadeiras máquinas lucrativas, principalmente as instituições iniciadas nos
EUA e na Europa que surgem como organizações fortíssimas por todo o planeta.
Portanto, como todas as organizações mundiais, as
relacionadas ao esporte possuem estrutura definida com relação à cargos,
processos de tomada de decisão, entre outros, partindo de uma hierarquia
verticalizada as organizações esportivas são divididas em cargos como
proprietário, presidente, conselho, diretoria, comissão técnica, atletas, entre
outros. Todos esses cargos possuem sua importância em maior ou menor escala, abordando
especificamente o futebol pode-se perceber que nos últimos anos um dos cargos
tem ganhado bastante notoriedade e importância, é o cargo de treinador, antes
pouco importante e responsável apenas por “colocar os jogadores em campo”, hoje
os treinadores recebem salários astronômicos e são tratados diversas vezes como
estrelas em detrimento aos demais jogadores, sofrem grande pressão e estão
quase sempre a mercê dos resultados.
Mas, qual o motivo dessa valorização recente dos
treinadores, um dos pontos que pode ajudar explicar isso está diretamente
ligado à globalização constante, pois é cada vez mais comuns vermos atletas de
diferentes nacionalidades atuando juntos em determinado país, portanto o
treinador precisa além de armar sua equipe, criar meios que possibilitem que
pessoas tão diferentes trabalhem juntas sem criar atritos excessivos. Na Europa
e na antiga América Espanhola, é comum a atuação de profissionais desta área em
outros países, a língua comum e a proximidade geográfica entre os países em
cada uma dessas regiões facilitam a adaptação do profissional ao local e seu
melhor desempenho.
Já ao abordar o Brasil não se percebe o mesmo sucesso dos
treinadores em diversas partes do mundo, em partes pelo atraso técnico que eles
possuem, mas também pela dificuldade de adaptação ao novo local de trabalho,
pois apesar de muitos treinadores brasileiros serem limitados, há uma minoria
competente e com trabalhos reconhecidos no país que acabaram falhando em solo
estrangeiro.
Dois casos famosos de brasileiros que fracassaram em
clubes europeus são Vanderlei Luxemburgo em sua passagem por Madrid e Luiz
Felipe Scolari em Londres, o primeiro chegou com status de penta campeão
brasileiro para dirigir o Real Madrid, e não conseguiu ser campeão nacional
pelo clube merengue, acusado de favorecer brasileiros do elenco em detrimento
ao resto do time foi dispensado logo ao fim da sua primeira temporada pela
equipe merengue, mas se a campanha não foi brilhante também não foi desastrosa,
o técnico garantiu um honroso vice-campeonato espanhol.
Mas o grande fracasso brasileiro na Europa foi o de
Scolari no Chelsea, o treinador brasileiro durou apenas quatro meses e seu fracasso
foge do campo técnico e pode ser entendido também como uma falha na
administração do grupo, responsável por administrar um dos grupos de atletas
mais heterogêneos do mundo, - europeus, americanos, africanos e outros -, o
técnico brasileiro foi “fritado” pelas principais estrelas do grupo e os
jornais o acusaram de não saber lidar com o idioma do país. Partindo de uma
lógica pós-modernista pode-se afirmar que não saber o idioma inglês foi uma
barreira importante, mas o grande problema foi não entender a cultura do país e
de seu grupo de atletas, o não entendimento do idioma foi uma conseqüência apenas,
portanto o treinador errou ao entender o clube como algo lógico e previsível
igual a qualquer outro clube brasileiro, ou seja, ignorou a premissa do Homem
enquanto imprevisível e não se preocupou em entender a cultura londrina e a
cultura específica do time.
No
próprio Brasil podemos ver algumas diferenças culturais que muitas vezes
atrasam a adaptação de atletas e treinadores à diferentes locais, portanto
deve-se partir da idéia do interpretativismo enquanto forma de integração
cultural, para o profissional se adaptar à outra região geográfica ele deve
entender a cultura e seus detalhes particulares, uma idéia interessante poderia
ser adaptação ao local antes do início do trabalho, mas nesse mundo “acelerado”
a experiência e o aprendizado devem ser ao mesmo tempo em que o trabalho é
realizado, como diz Humberto Gessinger em uma de suas músicas, “não há tempo
perdido, não há tempo à perder”, ou seja, as missões inglórias dos brasileiros
no exterior devem ser consideradas enquanto aprendizagem em um sistema de
circuito duplo a fim de que os mesmos erros não sejam cometidos pelos
brasileiros ou por qualquer outro povo e todos conquistem seu lugar ao sol,
valorizando a diversidade, mas sempre contribuindo com suas particularidades
culturais.
Scolari à beira do gramado em um de seus jogos em sua péssima passagem por Londres
Grupo: Breno Geron, Clério Santana, Gustavo Forapani, Heitor de Aguiar Cogo, Leonardo Silvério e Wagner Rodrigues.
Os clubes de futebol são grandes organizações que detêm muito poder, inclusive. Analogicamente ao papel dos gerentes nas organizações tradicionais, temos os técnicos/treinadores neste tipo de organização. Assim como aqueles, estes recebem uma grande carga de responsabilidade e de pressão. Dessa forma, podemos imaginar problemas relacionados ao trabalho como depressão, doenças cardíacas, elevado nível de stress devido a busca e cobrança por resultados. O grupo fez uma excelente excelente escolha ao escrever sobre esse tipo de organização pois como o próprio texto cita, muitas das vezes não imaginamos-as como sendo organizações tão complexas.
ResponderExcluirTexto bastante interessante pois ninguém acha que um clube é organização, pelo contrario e uma organização bem complexa, falando sobre o texto especificamente os treinadores é como se fosse um diretor de uma grande multinacional, pressões cotidianas, que levam a ter varias doenças, temos casos que treinadores sofreram infarto no próprio campo durante uma partida, pois o clube não estava passando por um momento muito bem, mostrando claramente que as pressões podem prejudicar o funcionário qualquer que ele seja desde o faxineiro até o presidente
ResponderExcluir